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O BANQUETE E O FARELO

Tudo e nada são convicções tão próximas que seria necessário um especialista para reconhecer a diferença. O conceito de abundância está diretamente ligado à sabedoria de preservar para nunca faltar. E o que se preserva não é aquilo que se consome, e sim aquilo que se experimenta. Conservamos e cuidamos do direito de existir sem destruir, de viver sem matar. Todos os dias que acordamos temos a oportunidade de nos tornarmos pessoas melhores e regenerar o planeta por meio de um exuberante caleidoscópio de experiências que muito pouco tem a ver com propriedade, prestígio ou poder.


Acontece que o ser humano ainda é muito arrogante para perceber o quanto ele precisa renovar sua figura em relação à sua época; afinal de contas ele é talentoso, engraçado, dinâmico, perspicaz e um grandíssimo filho da puta. Como pode ser uma criatura tão inteligente e tão burra ao mesmo tempo? Fomos convidados para um banquete – que é a vida, é a natureza – e ainda assim, insistimos em levar debaixo do braço um pote de farelo sem gosto e sem graça do qual nos entupimos até infartar. Numa sociedade autocentrada, a humildade se torna prisioneira do ego; o pote de farelo que levamos debaixo do braço são vulgaridades que nos sequestram a qualidade do tempo ímpar e que nos afastam da nossa humanidade.


A prática do desapego revela o propósito da abundância. Para desfrutarmos do banquete é preciso abandonar a zona de conforto e abrir mão dos hábitos comodistas que certificam o vulto das aparências. O material é importante para o espiritual; contudo estamos aqui falando de vidas sadias em regeneração, numa viagem curta de 100 anos, onde todo espaço nos serve para levarmos a mensagem penetrante do companheirismo, com objetivo de nos alongarmos para além do consumo abusivo autenticado por justificativas verídicas – porém irreais – que quase sempre nos colocam em negação do problema que nos tornamos para o mundo.


Parece existir algo fundamentalmente desengonçado na maneira que desenvolvemos nossa sobrevivência – em como valorizamos o que não importa – elegendo viver com a cognição quente e acelerada num sistema que recompensa apenas as melhores notas; que aplaude aquele que dá mais porrada e que ri do que mais apanha; que beneficia o mais egoísta e que absolve quem mais mente – e se o importante é competir, por que então não premiamos quem chega em último lugar? Erguemos um conjunto de valores com imagens e semelhanças tão distorcidas que fazem um pai e uma mãe abandonar sua posição de inspiração para dar cadeira a um super-herói platônico, um esnobe-de-ferro em total distopia com a realidade. São os próprios adultos que autorizam a tatuagem da princesa licenciada na retina de uma criança traída – com a camiseta estampada pelas costas – em rota de colisão com seu problema de infância. Toda vez que escolhemos venerar a perfeição e ligamos a sedutora empilhadeira de coisas sem propósito, estamos em realidade sofisticando a violência, alargando a desigualdade social e dificultando a nossa permanência aqui na Terra.


Na dúvida, faça tudo ao contrário; não é aquilo que desconhecemos que nos causa problemas, é aquilo que temos certeza ser verdade que nos assusta. Fazer e ser diferente pode parecer lento no começo, mas é o que nos levará mais longe – é o que nos permitirá aceitar a contradição humana e coabitar o mundo. O banquete simboliza o nosso processo de reforma onde a transformação é uma porta que se abre por dentro. Viver na era do impacto humano sugere questionar nossas intenções e consequências; significa ter a mente e os olhos bem abertos; usar o coração para respirar e preservar a diversidade; implica em não deixar rastros – em mover-se por aí sem incomodar – simplificando nossa passagem pelo planeta com paciência pelo caráter, postura quando necessária e bom-humor sempre. E como o fim chega quando mais se precisa; acredite – seus pentelhos também ficarão grisalhos e você irá dizer: “Não quero reconhecimento, quero ajuda. Não quero aplauso, quero abraço.” Lembre-se que a vida é um banquete e você não precisa levar o seu farelo.


Fabrício DaCosta

Branding - Manifesta Capital



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